O
transcorrer dos dias, semanas, meses são astronomicamente marcados pelo
movimento da Terra em torno do Sol, e da Lua em torno da Terra. Deste modo
temos a alterações de dias e noites, da duração da insolação em função da maior
distância em relação ao Sol, marcando a sucessão das estações do ano.
Todavia, o fim do ano tem muito de fenômeno social e psicológico
e um tanto de convenção social. Entretanto, na realidade, o que muda na virada
da noite de 31 de dezembro? Afinal, objetivamente, a sucessão das horas é
a mesma, marcada pelo contraste de escuridão versus luz.
Parece haver algo de ilusão de estar terminando um lance da
jornada e começando outro. Mas, isso provoca o sentimento de fechar um ciclo,
de fazer um balanço, uma avaliação do que este ciclo deixou, o que significou.
Usamos da capacidade humana de "olhar para trás" e
ver, ainda que imaginariamente, as marcas, as pegadas que se deixou. Boas?
Ruins? Significativas? Importantes?
Quais são os aprendizados? O que se pretende neste próximo ano?
O que se descortina? O que se pode esperar? Para os empreendedores com um
negócios ativos, ou para aqueles que têm a intenção de empreender muitas são as
implicações do novo ano fiscal, pois no Brasil, 2015 significa um cenário longe
de animador em termos econômicos e políticos.
Decerto que é contrário ao espírito empreendedor ficar de braços
cruzados esperando que a situação se defina para agir. Ele deve tecer seus
planos de voo, o mais realisticamente possível. Para isto tem que se municiar
em muitas informações. Buscar ativamente em muitas fontes externas e internas.
Externamente: se o país crescer, será um crescimento tímido,
claudicante. Aliás, nos últimos cinco anos declinamos de um PIB de 7,5% ao ano
para quase aterrissarmos no não crescimento, com meros 0,2%. Com o cenário
político complicado e as medidas de correção a serem feitas, segundo
expectativas do mercado financeiro no máximo se espera flertar 1,0%, muito
abaixo de vários países desenvolvidos.
Como a inflação nos ronda --desde 2010 estamos oficialmente na
faixa de 5,8 a 6,4%-- o Banco Central colhe no mercado financeiro a expectativa
de não menos do que 6,5% para 2015.
Com juros crescentes – já em 11,75% e esperando-se aumentar para
12,5% a.a. e poupança interna em declínio – 13,5% do PIB estimados pelo FMI
para 2014, já se percebe que o dinheiro vai encurtar.
Associe-se mais os dados de: contas públicas quase deficitárias
– sobrando mísero 0,2% do PIB (estimados pelo mercado financeiro); poupança
interna também declinante – a estimativa é de 13,5% do PIB -; investimentos na
faixa de 17% do PIB (foi de 20,7% em 2008) - lembrando-se que estes dependem
muito da credibilidade do governo e do país, você apostaria em que?
Ainda falta dizer que a nossa moeda tem se desvalorizado frente
ao dólar em função da retomada de crescimento da economia americana e da maior
atratividade para investimentos naquele país. Por outro lado, significa que as
nossas mercadorias e produtos se tornam mais baratos. Podemos exportar
mais, sobretudo as commodities. Mas, receberemos menos reais pelo volume
exportado.
Tanto os consumidores quanto os empresários já não se mostravam
tão otimistas em 2014. Imagine-se então para 2015? Já se sabe que os preços
irão subir por conta de majoração de energia elétrica, de combustíveis e do
salário mínimo. Transportes ficarão mais caros. Tudo isto impactará nos preços
de produtos e serviços que disputarão menor poder de consumo e disposição para
se endividar.
Portanto, os empreendedores têm um sério dever de casa a fazer,
caso não tenham feito ainda. Descortinar como este cenário impacta o seu
negócio atual ou o pretendido. Para quaisquer negócios é importantíssimo saber
sobre os clientes, dos fiéis, dos eventuais e dos possíveis. De que setores da
economia dependem? O que esperar do comportamento deles?
Decerto fica difícil esperar expansão da carteira de clientes, a
não ser que o seu negócio tenha inovações reais, produtos e serviços novos a
lançar. Mesmo assim, o risco real é de encontrar o mercado com menos apetite
para aquisições e trocas. A conquista ou a manutenção do faturamento vão ser
desafiadores. Ainda mais se pensar que os custos crescerão, e ficará difícil
repassar tudo para o preço pago pelos clientes.
A gestão dos recursos deverá ser feita com muito cuidado. O
empreendedor precisa acompanhar todos os gastos com lupa! Precisa registrar e
analisar com muito cuidado os seus gastos, e como os custos variam: os fixos e
variáveis. Quanto mais puder transformar custos fixos em variáveis, melhor.
Pena para os trabalhadores, pois isto também os incluem!
Bancos de dados são muito preciosos para examinar como seu
negócio varia ao longo das semanas, dos meses e do ano. Conhecer as variáveis
que o afetam as vendas é fundamental para se prevenir e não estocar demais ou
produzir em descompasso com a demanda. Há variáveis por vezes tão importantes
quanto a variação do clima sobre o comportamento do consumidor e, portanto,
sobre a demanda.
Com este olhar crítico no flanco interno, há o desafio de,
apesar de tudo, ter gente motivada para lutar e dar o seu melhor, pois há muito
que fazer e agir no flanco externo: os clientes serão mais aguerridamente
disputados por concorrentes.
Será mais importante do que nunca as relações que já estabeleceu
ou pretende estabelecer com os clientes ou a qualidade e diferenciais que
poderá oferecer a eles. O que posso lhe desejar é muita perícia, energia e boa
sorte para pilotar ao longo de 2015!
Fonte: UOL Notícias
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