Muitas vezes o sucesso
de um negócio está na entrega ao ritual de nos relacionar com a clientela. Quem
me chamou a atenção para os rituais com a clientela como determinantes no
sucesso de um novo negócio (mais do que o acerto da vinculação da mercadoria ou
serviço com o nicho de mercado), foi meu guru João Célio Brandão, professor
aposentado da PUC-Rio.
O
professor João Célio criou um pequeno paraíso em torno de sua residência em
Juiz de Fora (MG) e é lá que recebe os amigos e discípulos (que me incluo) para
algumas reflexões.
O
tema que discutiu comigo, numa das raras vezes que tem tempo para nos dar uma
atenção individualizada, foi o prazer de ver a competência sendo exercida nos
atos de compra, venda, negociação.
"É
como se percebêssemos, em cada relacionamento do lojista com o cliente, do
fornecedor com o lojista, do cliente com vendedor, o pano de fundo de um
ritual, que optasse, permanentemente, pela competência", me disse. Essa
ideia me remeteu, posteriormente, às cerimônias do chá, comuns nas culturas
chinesas e japonesas.
Uma
consulta na internet me trouxe uma descrição que acredito estimulante, como o
café que o professor João Célio nos serve enquanto nos ensina: "O espírito
da cerimônia do chá chinesa é descrito como "he, jing, ji, qing" o
que se traduz em "paz, respeito, harmonia, pureza".
Se
buscássemos no relacionamento com nossa cadeia produtiva gerar o prazer da
competência, evitaríamos, provavelmente, os atendimentos apressados e
impessoais.
Voltaríamos
aos velhos tempos em que o balcão nos servia de uma mesa de negociação que
igualava cliente e vendedor, nos garantindo apoio e uma proximidade que nos
possibilitava o olho no olho, o cuidado para entender o que cada um propunha em
cada etapa da negociação.
Resgataríamos
o ritual, me conta o professor João Célio, de nos manter plenamente atentos às
nuances que o ser humano (vendedor ou comprador) manifesta em torno da
negociação de uma mercadoria ou serviço.
Fugiríamos
das ideias e atitudes preconcebidas que muitos lojistas assumem quando percebem
um consumidor em sua loja. Acreditam, piamente, que se entramos ali é porque
vamos comprar o que tem a venda, e partem para propostas agressivas, sem querer
entender o que nos fez entrar no seu estabelecimento.
Sem
nos olhar no olho, sem perceber nossa linguagem corporal, sem querer saber que
provavelmente estamos atrás inicialmente de um copo de água ou de uma xícara de
chá, para, quem sabe, em seguida iniciarmos um relacionamento de toda uma vida
com aquela loja, empresa ou escritório.
Fonte:
UOL Notícias