Uma
pequena loja de artigos esportivos no centro de São Paulo fundada em 2000 teve
um faturamento de R$ 1,13 bilhão no ano passado. A princípio, essa é uma descrição
rápida do sucesso da Netshoes, mas a companhia diz que precisa mudar para
sobreviver nos próximos anos. E mais, todo o setor de comércio eletrônico
precisa se repensar também.
Em
2012, a empresa teve um prejuízo de R$ 79,3 milhões e afirma nunca ter
alcançado o ponto de equilíbrio (condição em que o faturamento é suficiente
para cobrir as despesas). Parte dos custos e investimentos vêm sendo bancado
pelos fundos de tecnologia Tiger Global, Iconiq Capital, Temasek e Kaszek
Ventures.
O
gerente de assuntos corporativos da empresa, Renato Mendes, 33, admite que no
começo foi necessário investir principalmente em tecnologia e marketing e
deixar de lado um controle rígido de gastos. "Quando a operação virou
apenas digital em 2007 havia a necessidade de firmar uma marca forte e também
colaborar para o consumidor brasileiro se habituar a comprar em lojas virtuais.
Naquela época só se vendiam eletrodomésticos de forma on-line', comenta.
FASES
Mendes considera que o e-commerce brasileiro tem como marco de sua fase inicial o ano de 1995, quando foi criado o Booknet, que viria originar a empresa Submarino. Essa é considerada uma fase de experimentação do consumidor brasileiro, na qual a qualidade dos serviços era impecável para atrair compradores de primeira viagem.
Mendes considera que o e-commerce brasileiro tem como marco de sua fase inicial o ano de 1995, quando foi criado o Booknet, que viria originar a empresa Submarino. Essa é considerada uma fase de experimentação do consumidor brasileiro, na qual a qualidade dos serviços era impecável para atrair compradores de primeira viagem.
Aos
poucos as empresas digitais foram ganhando mercado e recebendo investimentos
milionários, mas não havia quase nenhuma preocupação com controles de fluxo de
caixa e custos fixos. Isso durou até o ano 2000. Naquele ano aconteceu o
estouro da bolha da internet ou bolha das empresas ponto com, uma bolha
especulativa criada no final da década de 1990 caracterizada por uma forte alta
das ações das novas empresas de tecnologia da informação e comunicação.
A
partir daí, as empresas de internet que não quebraram passaram a ser cobradas
duramente pelos investidores para entregar resultados e começava a segunda fase
do e-commerce brasileiro. Mendes recorda que nesse momento também grandes de
lojas físicas começaram a apostar nas vendas on-line e começou uma guerra de
preços.
"Ao
longo da primeira década do século 21, houve entrada de inúmeras empresas ao mesmo
tempo no mercado on-line. As empresas se profissionalizaram muito, mas isso
acabou reduzindo as margens de todo mundo por causa da guerra de preços e a
alta de salários no mercado", comenta.
Essa
competição foi a responsável por invenções exclusivas do Brasil, como o
pagamento em 12 vezes sem juros e o frete grátis para entregas expressas,
soluções para gerar uma diferenciação nos preços. "Mas isso no longo prazo
foi prejudicial, a conta não fechou. Foi um monstrinho criado lá atrás",
diz.
Essa
situação estourou no Natal de 2010, quando muitas empresas não deram conta de
atender os pedidos por falta de estrutura no SAC (Serviço de Atendimento ao
Consumidor) e nas entregas. Para lucrar mais, muitas companhias na época
terceirizavam esses setores.
MUDANÇA
Segundo Mendes, após esse choque muitas lojas virtuais começaram a reinvestir de novo no controle da operação de ponta a ponta e começou a terceira fase do mercado. "Não faz mais sentido crescer a qualquer custo. O Brasil tem milhares de lojas virtuais, então ter qualidade será essencial para se diferenciar", afirma.
Segundo Mendes, após esse choque muitas lojas virtuais começaram a reinvestir de novo no controle da operação de ponta a ponta e começou a terceira fase do mercado. "Não faz mais sentido crescer a qualquer custo. O Brasil tem milhares de lojas virtuais, então ter qualidade será essencial para se diferenciar", afirma.
A
ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) espera terminar este ano
com 36 mil lojas virtuais no país. A Netshoes, por exemplo, divulga que agora
está reduzindo despesas variáveis que antes eram armas para conseguir
consumidores, mas representavam custos elevados.
Por
exemplo, foi instituído o frete pago para entregas rápidas e um limite mínimo
de R$ 25 por parcela em caso de compras a prazo. "É vital cortar esses
gastos para as contas fecharem e é melhor investir em qualidade de entregas e
atendimento", diz.
Outra
redução de gastos é na linha de produtos. A Netshoes tem 38.000 artigos
esportivos à venda que abrangem 30 modalidades esportivas. Mendes destaca que
isso é importante por atrair mais público, mas é altamente caro. "Por isso
temos muitas análises sobre o leque de produtos. Temos opinião de especialistas
em cada modalidade e usamos as opiniões dos usuários. Tentamos dar um tiro de
'spiner' [atirador de elite] ao invés de um tiro de metralhadora, que pode
acertar em muitas coisas inúteis", compara.
Fonte:
Folha.com
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