Nunca
abordei sobre o empreendedorismo corporativo e o intraempreendedorismo, que
também são aspectos muito importantes do tema e muito confundidos. Aliás, até
20 anos atrás a fronteira entre os dois fenômenos era mais nebulosa ainda.
Ambos se relacionam com o estímulo e a manutenção do chamado
espírito empreendedor nas organizações e negócios, principalmente quando estes
já venceram as fases iniciais e de estruturação interna e de crescimento, com
definição de funções, processos, normas etc. Aí, se não houver vigilância, o
espírito e comportamentos empreendedores vão embora cedendo lugar a rotinas e
burocracia.
Também tem a ver com a estimulação e manutenção contínuas de
inovação, e merece ser destacado aqui o velho Schumpeter que atrelou o
empreendedor à introdução de mudanças e inovação. Pois, o empreendedor rompe a
inércia e o equilíbrio atuais ao propor novos produtos, novos processos, a
substituição e/ou uso de novas matérias primas.
Pode ainda propor a abertura de novos mercados para os produtos
e serviços. E, se a inovação for radical, introduzindo novos conhecimentos e
tecnologia (o que é mais raro), fará com que o negócio alcance um nível difícil
de ser atingido (pelo menos por um tempo), gerando uma vantagem e posição
competitivas únicas.
Pois bem, os empreendedores, sucessores e gestores necessitam
monitorar o ambiente e as condições internas do negócio ou da organização para
que não se tolha a capacidade de criar e de inovar de seus colaboradores.
Assim, o empreendedorismo corporativo é bastante amplo e
relaciona-se com o comportamento empreendedor dos funcionários –que é o
intraempreendedorismo. Afinal o intraempreendedor é aquele indivíduo que
manifesta o comportamento empreendedor e certa inconformidade, pois está atento
às oportunidades e motivado para buscar formas de melhorar e de inovar.
Em verdade, o empreendedorismo corporativo abrange o
intraempreendedorismo. Abrange ainda a renovação estratégica do negócio, a
criação de novos negócios ou empresas a partir da "empresa mãe", a
orientação empreendedora e novas formas de gestão empresarial.
Deste modo, o empreendedorismo corporativo/organizacional se
refere à criação e manutenção do ambiente interno propício e estimulador da
inovação e de mudança. Consequentemente, abarca tanto as características do
modelo de gestão bem como as condições organizacionais internas.
Afinal, são o modelo de gestão e as condições internas que
incentivam ou não o comportamento intraempreendedor dos colaboradores que têm o
perfil e potencial para se comportar de modo empreendedor.
Percebe-se então, que são diversos os fatores que podem podar ou
estimular o empreendedorismo corporativo. Neste sentido, outro autor (Brazeal)
indicou que sem o suporte gerencial, ou seja, sem que os principais gestores e
líderes da organização estimulem e demandem a inovação e a reconheçam, o desejo
e espírito empreendedor estarão apagados em seus liderados.
Conceder mais autonomia e empoderamento ao time de colaboradores
é um dos fatores que podem atiçar a chama empreendedora. O que é possível se os
critérios e objetivos de trabalho forem aclarados, se houver certa
flexibilidade para os insucessos, e que as fronteiras da empresa não sejam
fechadas. O que significa ter abertura para busca e troca de informações, tanto
dentro quanto fora da organização.
Mais ainda: que se sinalize a possibilidade de empregar pelo
menos uma pequena parcela de tempo em busca tanto de informação, quanto de
alternativas de solução, parcerias, testes, etc. Sem isto ficará difícil fazer
algo diferente do que já se faz, ou propor algo que saia da rotina e dos procedimentos
atuais.
Os esforços dos desbravadores, dos inovadores, dos que sugerem
alternativas novas, procedimentos, produtos, mercados, reposicionamentos,
reaproveitamento e novos usos de recursos, nova estratégia precisam ser
destacados, valorizados e celebrados. Para gerar um ciclo virtuoso de exemplos
na empresa / organização.
Os desafios do time fundador se iniciam quando criam o negócio
ou organização, mudam e até aumentam durante a dura fase de torná-los viáveis e
sobreviver. Ampliam-se mais ainda quando estão alavancando o crescimento, em
que precisam atrair e manter pessoas para assumir funções, mas que desejem
contribuir e se comportar de forma empreendedora.
Mesmo depois, os empreendedores, gestores e executivos não podem
abaixar a guarda, pois se não mantiverem aceso o impulso empreendedor,
arriscam-se de perder o que foi duramente conquistado. A cultura e as condições
internas precisam ser monitoradas e corrigidas para sinalizar continuamente de
que é possível, viável, interessa e vale a pena estar motivado e entusiasmado
para inovar.
Fonte: UOL Economia