A
sequência é mais ou menos a seguinte: uma alma inquieta e acima da média
consegue um ótimo emprego; expande-se rapidamente para além dos limites da
função, assimila a visão gerencial do segmento e do negócio, demite o patrão e
abre o próprio negócio. E toma o primeiro grande tombo de sua vida.
É quando vê escapar pelos dedos os grandes parceiros e seus
eufóricos projetos. Lá se vai o carro do ano para quitar dívidas de
honra. Desaparecem as reservas e os amigos.
E você, que resiste o quanto pode a se reconhecer falido, recita
Carlos Drummond de Andrade na sua oração noturna: "E agora José?"
Agora é hora de fazer o plano de negócios para dar a volta por
cima. Não é fácil. Porque exige alta dose de humildade, dificílima para quem
estava numa curva ascendente, aparentemente.
Mas, ao avaliar os amigos, aliados e parceiros que deixam um
enorme deserto emocional ao seu redor, você, mais uma vez inspirado em
Drummond, verá com clareza as pedras que sempre estiveram no meio do caminho.
Descobrirá num aliado ou outro que te resta, na confiança
irrestrita de seu cônjuge e no afeto respeitoso de seus filhos ou pais, que
perdeu o pé do negócio por ter investido grande parte de seu capital para jogar
para a plateia.
Agora entende por que o carrão era tão necessário, assim como os
restaurantes sofisticados e as joias que ostentava. Pedras brilhantes que você
pendurou no balanço de sua organização. Como se sacasse vaidade adiantada do
lucro da empresa que, infelizmente, não se realizou a tempo.
Sua sorte é que todo falido que se prepara para dar a volta por
cima amplia sua visão de mundo. Também, pudera. Agora tem tempo para remoer as
alternativas que o teriam salvo se ouvisse mais do que falasse.
Ao se recolher mais cedo, sem dinheiro para financiar os
encontros caríssimos com a plateia que, agora, nem sequer o registra fora do
palco dos negócios, o empresário que reconstrói seu retorno ao controle da
próxima empresa é sereno, desconfiado, cuidadoso. Avalia as pessoas à medida
que se provam agregadoras de valores, não mais pelas mirabolantes ofertas que
lhe induziam a investir.
Aos poucos, falido, descobrirá outra qualidade essencial para
sobreviver no mundo dos negócios: a sorte chega para quem se prepara, com muita
dedicação e trabalho pesado, para aguardá-la com paciência.
E aos pouquinhos garimpará talentos, muitos tão caídos que nem
você, para moldar um novo empreendimento. Que já trará o plano de negócios de
como dar a volta por cima no próximo tombo, que ocorrerá. E a exemplo dos
monges budistas adotará como lema: "A melhor oração é a paciência".
Fonte: UOL Notícias
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