É comum
em filmes violentos, quando há desentendimento entre os participantes das
organizações (criminosas ou não) que, no ajuste de contas, surja a frase:
"Não leve a mal, mas são só negócios". A expressão justificaria as
ações agressivas, a demissão de um profissional ou a tomada de controle hostil
de uma empresa.
A frase se repete nos mais diferentes contextos de ruptura
porque deve ter uma boa parcela da população, em vários lugares do mundo, que
realmente acredita que o mundo dos negócios é um ambiente brutal, sem nuances
emocionais. Um lugar destinado aos fortes, impávidos, cruéis.
Mas esse é mais um super clichê que o empreendedor de primeira
viagem descobrirá de pouca valia no seu dia a dia como gestor do próprio
negócio.
Ao contrário das figuras que se apresentam como determinadas e
implacáveis, gerenciar um empreendimento rumo à sobrevivência exige muita
calma, muita paciência e um jogo de cintura de fazer inveja aos campeões de
bambolê.
Nas raras ocasiões em que o novo empreendedor puder usar toda a
sua fúria para "executar" um contrato, se já tiver adquirido um
mínimo de visão estratégica do seu negócio, apostará na gentileza, para gerar
gentileza em prováveis disputas no futuro.
Porque na vida real não existem os personas de cinema que são
construídos para mostrar ao público as diferenças nítidas entre o bem e o mal,
entre o mocinho e o bandido.
Aqui, fora da tela, na batalha diária para manter as portas da
empresa abertas, raramente existem negociações com termos implacáveis. Pois
mesmo os eventuais conflitos (e existem muitos) se transformam em obstáculos
que geralmente são contornados para se confirmar e manter relacionamentos
perenes.
É assim que se constrói, aos pouquinhos, a confiabilidade da
empresa e transforma seu gestor, também aos pouquinhos, num líder do seu setor.
Porque é a respeitabilidade da empresa que pode torná-la, eventualmente, uma
"durona" nas negociações com seus fornecedores.
Mesmo assim só depois de ter desenvolvido uma cultura
organizacional que seja aceita, consensualmente, por todos os agentes
envolvidos na cadeia produtiva que a empresa esteja inserida.
Nesse caso, o rigor reforça o estilo, a seriedade, a competência
da organização. Muito longe, portanto, da brutalidade da frase "Não leve a
mal, mas são só negócios".
Fonte: UOL Notícias
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