A cena
é comum. O cliente entra no banco com algum dinheiro em conta e pergunta para o
gerente: o que você tem de bom em investimentos para mim? É quase certo que a
resposta não será a mais adequada às necessidades do cliente. Mas, de quem é a
culpa?
"O
cliente não pode comprar produtos de investimento como quem compra bala na
padaria", afirma o professor Michael Viriato, do Insper.
Se
perguntar para o gerente que produto ele tem para oferecer, o profissional vai
falar das ofertas do mercado, mas isso pode não atender à necessidade do
cliente.
"O
gerente não é consultor financeiro. Ele não está ali para oferecer um produto
que é adequado para o cliente. Ele está ali para vender um produto do
banco", diz.
Gerente
prioriza lucro do banco, diz especialista
Leandro
Martins, analista-chefe e responsável pela área educacional da Walpires
Corretora de Valores, concorda. "É preciso lembrar que o gerente é um
funcionário do banco. Ele tende, por isso, a priorizar a rentabilidade de quem
o remunera", diz.
Segundo
ele, produtos como Tesouro Direto, que não são atraentes em termos de
rentabilidade para o banco, quase nunca são oferecidos aos clientes, a não ser
que estes peçam.
Os
produtos que costumam ser oferecidos, em primeiro lugar, são CDBs do banco,
seguros, previdência privada e títulos de capitalização, sendo que estes
últimos nem podem ser considerados investimentos, já que rendem menos do que a
própria poupança. "Este é o típico produto que é só vantajoso para o
banco", afirma.
Martins
diz que em um banco grande dificilmente o cliente vai obter, num CDB, uma taxa
maior do que o retorno de um título do Tesouro Direto. "O cliente
corre mais risco para obter uma rentabilidade menor e nem se dá conta
disso."
"Brasileiro
tem que parar de procurar guru"
Para o
professor Ricardo Humberto Rocha, do Insper, os bancos têm investido na
formação dos profissionais para que ofereçam produtos adequados a cada cliente,
mas isso não tem se mostrado suficiente.
"Se
o cliente não tiver educação financeira, vamos ficar num jogo de maluco. O
investidor precisa saber para que quer guardar o dinheiro e por quanto tempo. E
o vendedor tem que respeitar o perfil desse cliente e adequar os investimentos
ao objetivo dele."
Para
Leandro Martins, o brasileiro tem que parar de procurar um guru.
"Trabalhamos 300 horas por mês por dinheiro. Por isso, é preciso dedicar
ao menos 2 horas para estudar onde aplicar melhor esse dinheiro, e não deixar
alguém decidir isso por você."
Banco
diz que mudou sistema de metas
Consultados
sobre como orientam seus funcionários a atender clientes que procuram
orientações de investimento, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal,
HSBC, Itaú e Santander informaram que investem em treinamentos e
especialização de seus funcionários.
O banco
HSBC diz que acabou com a comissão por meta de venda de produtos. As metas,
segundo Juan Parma, diretor-executivo de varejo e gestão de patrimônio do
banco, são agora atreladas à qualidade de relacionamento com o cliente.
Questionado,
o Bradesco não se pronunciou.
Fonte: UOL Economia
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